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Em meus mais de 20 anos como empreendedor e sete anos como educador no tema, tenho explorado se começar empresas de sucesso deveria ser ensinado como uma ciência ou como uma arte. Se o empreendedorismo é uma ciência, então eu poderia facilmente ensinar meus alunos que esses deveriam executar as ações X e Y, de forma a alcançar o resultado Z. Caso o empreendedorismo seja uma arte, então poderia ser descrito como um ambíguo processo criativo que apenas alguns poucos seletos podem perseguir como uma carreira lucrativa.
Enquanto encontro vários elementos do empreendedorismo com origem em processos empíricos, também encontro muitos outros que requerem criatividade. Procurando por um modelo mental que abranja os dois aspectos em um modelo coesivo, de forma a abordar frutiferamente o processo de startup empresarial, comecei a refletir sobre artesãos cerâmicos. Esses hábeis indivíduos incorporam arte em cada pote produzido, porém, caso não tenham o conhecimento técnico sobre os fundamentos de modelagem da argila ou barro em objetos finalizados, eles não atingirão seus objetivos. A produção cerâmica não é ciência ou arte; é artesanato, um processo que converge ambos.
Há algumas características da cerâmica que a enraizam firmemente ao território do artesanato, apesar de pendular entre a arte e a ciência:
É acessível. Praticamente qualquer um pode fazer um pote de barro. Não é algo acessível apenas a uma pequena elite extraordinariamente talentosa;
É aprendível. A produção cerâmica consiste de um número de habilidades fundamentais que não são óbvias caso não sejam ensinadas com as devidas particularidades, mas essas podem ser ensinadas e aprendidas. Sorte apenas não fará um artesão cerâmico;
Valoriza produtos únicos. Quando a produção cerâmica é bem feita, ela é bela e única. A meta de vários artesãos cerâmicos não é a produção em massa do mesmo item, mas sim a criação de algo novo e valorizado.
É feito com conceitos fundamentais. Quando um artesão está aprendendo a adicionar argila a uma roda de modelagem, há princípios básicos como por exemplo como usar seus dedos para modelagem de diferentes curvas, ou como calibrar perfeitamente os pedais do aparelho. Enquanto saber esses princípios não é garantia do sucesso, eles podem melhorar radicalmente as chances do artesão em dominar conceitos mais complexos mais adiante.
É melhor aprendido com a prática. Para vários artesãos, uma parte crucial da educação é a atividade prática. Compreender completamente o conhecimento cerâmico envolve não apenas o uso da roda de modelagem, mas também pontos específicos de corte, molde, ranhura, etc. Esses podem ser explicados em aulas teóricas, porém serão realmente dominados quando houver uma combinação da teoria com as atividades práticas de treinamento.
Agora peguemos essas mesmas características-chave e apliquemos ao tema empreendedorismo:
É acessível. Empreendedores tem origem nas mais diversas vertentes, frequentemente por necessidade. Em algumas partes do mundo, empreendedorismo é uma forma de vida. Assim como na cerâmica artesanal, não há nenhuma bênção especial que o indivíduo precise para começar seu negócio, a não ser o desejo e um mínimo de potencial que é inerente a praticamente qualquer pessoa. A percepção histórica tem sido de que os empreendedores foram abençoados com algo especial e são únicos de alguma forma, o que é um problema. Pensar no empreendedorismo como uma ação artesanal ajuda a corrigir este ponto.
É aprendível: Dados de vários estudos mostram quanto mais vezes você inicia um novo negócio, maior a chance de sucesso de suas novas empresas no futuro. Empreendedores seriais tem capacidade de aprender como serem melhores empreendedores. Vejo isso diariamente na sala de aula, em nosso centro de empreendedorismo e também no mercado.
Valoriza produtos únicos. Este é o principal desafio para empreendedores: criar algo único para introduzir ao mundo onde antes não havia nada como isto, ou adicionar um ajuste único para algo já existente que seja valioso o suficiente para suplantar ofertas similares de concorrentes. Essa busca por uma vantagem única é o que torna o empreendedorismo especialmente difícil. É também o que torna o empreendedorismo parecido com o que um artesão pode alcançar — o uso criativo de capacidades aprendidas, onde o resultado final é algo valioso.
É feito com conceitos fundamentais. Há vários conceitos básicos que podem ser aprendidos sobre como construir um negócio. Minha experiência pessoal é ilustrativa: minha primeira iniciativa de lançar uma empresa, a Cambridge Decision Dynamics, foi um lamentável fracasso. Eu não sabia nada sobre iniciar e operar um negócio. Achei que recursos humanos não importavam. Não compreendia o encaixe entre produto e mercado. Não tinha ideia sobre como realmente levantar capital. E não compreendia que fluxo de caixa era diferente de lucratividade — e muito mais importante, também. Compreender tudo isso e outras competências empreendedoras melhora dramaticamente suas chances de sucesso, mesmo que não o garanta totalmente.
É melhor aprendido com a prática. Enquanto conhecimento básico de negócios é importante, capacidades práticas do mundo real são essenciais para a modelagem do empreendedorismo, assim como o são para a cerâmica. A essência do empreendedorismo é a colocação de de conceitos fundamentais em prática. Muitos empreendedores antes trabalham em uma empresa ou setor, aprendem as nuances daquele tipo específico de negócio, e depois iniciam sua própria iniciativa similar ou correlata. Para os que iniciam sua carreira empreendedora através de um programa educacional de empreendedorismo, há o benefício de acesso a aprendizado com ações práticas e mentorias. Educadores precisam oferecer oportunidades que vão além da sala de aula e compreensão teórica que mergulha fundo nas aplicações práticas. Ter essas qualidades noprograma de ensino de empreendedorismo é essencial.
O que o modelo mental artesanal significa para educadores?
Pensar o empreendedorismo por esta mentalidade artesanal pode nos ajudar a encarar vários dos desafios de grande escala para os quais o empreendedorismo é tão adequado. Nossa meta no campo do ensino deveria ser a de ajudar a educar a nova geração de inovadores que podem endereçar problemas aparentemente intransponíveis em áreas essenciais como saúde, energia e outros.
No lado teórico, a educação empreendedora deve focar em construir um corpo robusto de conhecimento que codifica um conjunto comum de conceitos fundamentais estruturados para aumentar as chances de sucesso de nossos estudantes. Devemos validar esses conceitos usando rigorosas técnicas de pesquisa sobre ciências sociais. Simultaneamente, precisamos desenvolver programas de treinamento semelhantes ao artesanato sobre como aplicar esses conceitos usando modelos de atividades práticas.
Será difícil trazer educação empreendedora de alta qualidade em uma escala que atenda a toda a demanda. Deveríamos, portanto, promover o desenvolvimento de mais e melhores cursos abertos e online (como os oferecidos pela edX) para ajudar a disseminar conceitos fundamentais, enquanto, em paralelo, se desenvolvem comunidades de suporte com coaches, mentores, e especialistas que podem dar suporte a uma abordagem mais prática ao ensino.
O resultado final será duplo: Linguagens comuns e estruturas (frameworks) se desenvolverão, como visto em outros campos como a medicina, direito e economia, e profissionais atuantes vão disponibilizar sua experiência criando uma comunidade de aprendizagem prática mais coesa. Feito em paralelo, veremos uma melhoria contínua e atualizada dos conceitos fundamentais do empreendedorismo, criando um ciclo virtual contínuo de feedback.
Temos a oportunidade de criar um caminho que aglutinará milhões de empreendedores para o aprendizado que precisam para impactar positivamente o planeta. Esclarecer que o empreendedorismo é um artesanato nos permitirá desenhar de forma apropriada a solução educacional escalável que precisamos. Isso nos beneficiará a todos no longo prazo.
* Reprodução do artigo original publicado pela MIT Sloan Review em 12 de Julho de 2017, de autoria do Prof. Bill Aulet.
Sobre o Autor
Bill Aulet é Diretor do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship e Professor na MIT Sloan School of Management. É autor de Disciplined Entrepreneurship: 24 Steps to a Successful Startup (Wiley, 2013) e de Disciplined Entrepreneurship Workbook (Wiley, 2017). Agradecimento especial a Nick Meyer, Entrepreneur in Residence at the Martin Trust Center, que primeiramente apresentou essa ideia.
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Amei essa abordagem entre a cerâmica e o empreendedorismo. Os dois temas realmente andam juntos… 🙂