Do original: “Why Do Some Innovations Stick? Quite Simply, Because They’re Better“, por Dylan Walsh, Stanford Graduate School of Business.  Tradução por Epicentor.


O que distingue o Google do WebCrawler ou AltaVista? Por que DVDs, e não Laserdiscs? Por que algumas inovações obtém sucesso enquanto outras não decolam?

A resposta é complicada. Porém um fator que tem sido evidente desde que os acadêmicos iniciaram a explorar esta questão é que as invenções de sucesso agregam inspiração de um conjunto de disciplinas. “Pesquisas indicam que as inovações de maior impacto combinam tecnologias ou ideias ou conhecimento que pessoas tipicamente não imaginam trabalhando em conjunto,” diz John-Paul Ferguson, Professor assistente de comportamento organizacional na Stanford Graduate School of Business. Entre as patentes, por exemplo, aquelas com fundações tecnológicas amplas tendem a ser mais influentes em patentes subsequentes.

Mas é este o cenário completo? Curioso, Ferguson e o co-autor Gianluca Carnabuci da ESMT Berlin se debruçaram a pesquisar registros do Escritório Europeu de Patentes. E eles encontraram uma história com mais nuances. Enquanto patentes amplas são, realmente, mais influentes que patentes focadas em um tipo único de tecnologia, sua complexidade também aumenta a barra do processo de aprovação; a invenção precisa ser mais atrativa aos examinadores  que analisam as patentes afim de receberem o sinal positivo. Como resultado, diz Ferguson, essas inovações são mais influentes não apenas porque são multidisciplinares, mas também porque precisam ser realmente melhores para passar pela aprovação da patente.

“Combinar partes díspares de conhecimento gera benefícios reais à inovação,” ele explica. “Mas esses impactos são excessivos se isso também torna mais difícil o processo de aprovação da patente.” Ele compara a situação ao “efeito do jogador negro de beisebol” dos anos 50.

Comparando-se as estatísticas dos atletas de beisebol brancos e negros na década de 50, identifica-se que os atletas negros, em média, superaram os jogadores brancos em praticamente todos os critérios. Porém, seria um erro atribuir essa excelência atlética a uma eventual superioridade de raça. “O que observou-se é que para que um negro fosse contratado pelas principais equipes daquela época, este teria que ser, realmente, um jogador superior.” O mesmo, ele diz, vale para patentes: Para uma patente complexa ser aprovada, uma invenção terá que ser superior às demais invenções correlatas.

Esses resultados, que foram publicados na Organization Science, contém implicações interessantes para o mundo da inovação. Para começar, explica Ferguson, o atual regime de patentes é frequentemente criticado pelo excesso de leniência. “Uma premissa dos usuários é que praticamente nenhuma patente é rejeitada, e que os órgãos de patentes são meros protocolos com carimbos,” diz Ferguson. A consequencia é um denso emaranhado legal no qual figuras míticas constantemente monitoram seus impérios de propriedade intelectual. Qualquer que seja o mérito desta preocupação, Ferguson entende que essa perspectiva ignora o fato de que, quando se trata de invenções criativas não-usuais, os examinadores de patentes tendem a ser bastante rigorosos. “Isso é algo que tendiamos a ignorar,” ele diz. “Não imaginamos que o tamanho deste efeito seja enorme, mas, dada a raridade das invenções disruptivas, quaisquer obstáculos a essas devem ser analisados.”

De forma geral, essas evidências despertam considerações importantes para qualquer mercado em que algum tipo de guardião — examinadores de patentes, neste caso — controle o fluxo produtivo. Ferguson explica que uma das premissas básicas na economia é o reconhecimento da sabedoria popular; essa sabedoria ajuda a discernir valor. “Mas, em muitos casos, o conjunto de coisas que um mercado pode se focar é filtrado por especialistas,” ele explica, e assim a sabedoria popular não é aplicada a alguns produtos e serviços. Isso não é, necessariamente, problemático se o grupo responsável pela filtragem representa com precisão os usuários finais. “Mas quando os guardiões que decidem o que disponibilizar ao público tem incentivos diferentes dos desse seu público, podemos começar a ter efeitos negativos.”

Por exemplo, considere Hollywood. Caso os produtores que aprovam os filmes operem por um conjunto de critérios financeiros que sejam completamente irrelevantes aos consumidores, então haverá um conjunto de filmes que o público nunca chegará a avaliar, e que as forças de mercado nunca chegarão a definí-los como sucessos ou fracassos. “Assim, nosso senso do que poderia ser lucrativo é, de certa forma, artificialmente moldado com o passar do tempo,” diz Ferguson.

Enquanto o tipo de filme a ser produzido pode parecer relativamente insignificante, exemplos mais sérios são facilmente imagináveis: Como o processo de análise das Agências Governamentais de Vigilância Sanitária afeta a vida de pacientes?  Como os padrões federais de pobreza afetam famílias de baixa renda marginalizadas?  Ou como as decisões do Congresso em promulgar uma lei e não outra pautado por votos de eleitores afetam os fundamentos operacionais de um país?

Independente do caso, Ferguson aponta que este processo de filtragem merece escrutínio. “O problema não é a existência dos guardiões em si. Mas os problemas podem aparecer rapidamente quando os critérios considerados por esses guardiões são consideravelmente diferentes dos do público para quem um produto ou serviço é direcionado.”

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