Artigo de autoria de Humberto Ribeiro, reproduzido do original publicado pelo portal Capital Digital.

A pandemia COVID-19 varre o planeta com impactos que transbordam a catastrófica mortalidade humana. Além das pessoas físicas, as jurídicas estão sendo duramente alcançadas por agudas disrupções.

Em prol da preservação das vidas, Empreendedores de todo o país seguem providências governamentais na direção do distanciamento social, mantendo fechados empreendimentos considerados pelo arcabouço legal como “não-essenciais”, ao passo em que ações de cunho social estão sendo implementadas para a garantia da subsistência da camada mais carente.

Será, para a grande maioria das empresas, um período de aflição, tanto durante a calamidade pública, quanto no momento subsequente, quando um plano de recuperação da capacidade econômica precisará se fazer presente como caminho de suporte às atividades produtivas brasileiras.

Vários vetores poderiam compor este plano, cobrindo dimensões de formalização, simplificação, produtividade, competitividade e outras, podendo essas serem setoriais, regionais ou transversais a todos os empreendedores do país.

Dado o contexto, o pilar central deste plano merece ser o Digital, aproveitando a forçosa e maciça adoção tecnológica imposta a todos os cidadãos, face ao advento do isolamento e reclusão domiciliar. Dos netos aos avós, o digital, que já vinha adentrando o cotidiano de todos, passou a ser efetivamente experimentado pela população e aplicado em sonhos de décadas dos entusiastas de TI, como as reuniões online, educação à distância, comércio eletrônico, telemedicina e outros. A adoção da TI pelo público em geral mudou, e mesmo após o final da Covid-19, não retornará ao seu patamar anterior. Há que se aproveitar este embalo, instrumentalizando digitalmente toda uma nação.

Divergindo da estranha cultura apregoada abertamente no Brasil de que “Agro é Tudo”, que há anos inspira perigoso retrocesso competitivo e subordinação do Brasil ao papel exclusivo de fornecedor de commodities, sabemos claramente que o planeta vive em plena época do “Talentismo”, definido em 2012 pelo Prof. Klaus Schwab – Presidente do World Economic Forum – como a evolução do Capitalismo. Este modelo aponta na direção de que o capital humano será o fator diferencial de produção das sociedades locais, nacionais e global, sendo os Serviços, em especial os transacionáveis (tradable), os protagonistas das cadeias produtivas globais. A implicação óbvia deste moderno modelo econômico é que as estruturas digital e educacional das nações são as indutoras da capacidade inovadora e de agregação de valor, gerando o sucesso futuro de cada país.

Entretanto, merece aqui nossa preocupação uma outra dimensão do plano – a do Investimento – sobre a qual apresento 3 perspectivas:

1) O Investimento das MPEs

Com milhões de empresas de micro e pequeno portes (MPEs) sendo obrigadas a suspender operações pela Covid-19, o governo anunciou um primeiro bloco de iniciativas buscando proteger o mercado do risco de uma maciça onda de demissões, o que elevaria o já altíssimo índice de desemprego e corroeria o frágil tecido de capilaridade da renda. Entretanto, adotou o caminho do financiamento via agentes financeiros – Bancos –, modelo que onera o custo do dinheiro em prol de intermediários e pressupõe a capitalização empresarial em razão de investimento em plano de negócios definido (que não existe!). Com isso, transferiu a responsabilidade que, em tese, seria de estado para as próprias empresas, que receberão recursos em troca de um compromisso de pagamento futuro sem que tenham utilizado este recurso para ganhos de capacidade produtiva ou alcance comercial. Diferentemente, o atual cenário de calamidade pública clama por uma necessária concessão de subsídios, subvenções e outros modelos de ajuda de custo de forma direta às Empresas que se encontram impedidas de operarem, sem que ocorra a intermediação ou o compromisso de quitação dos valores junto a instituições do setor financeiro.

O modelo atual é inócuo na solução da crise econômica, e inconsequente ao passo em que transfere benefícios reais apenas ao elo intermediário (Bancos), ao invés de trazer alento presente e futuro aos Empreendedores impedidos de operar suas atividades produtivas.

2) O Mercado de Capitais

Com queda acumulada de Janeiro a Abril de 2020 de cerca de 36,5%, a Bolsa de Valores brasileira (Bovespa) viu, até a última divulgação em Março último, a fuga de mais de R$ 44 Bilhões (!!) em recursos de investidores estrangeiros.

Tais recursos viriam a ser extremamente importantes ao Brasil, no momento crítico em que carecemos de fontes de viabilização de planos de transformação empresarial para diversos negócios que precisarão readequar suas capacidades e posicionamento perante as cadeias produtivas às quais pertencem. Com a queda do montante de capital disponível, torna-se maior o desafio empresarial de se alcançar um quinhão do capital flutuante em troca de suas ações, debêntures ou outros valores mobiliários.

3) O Investimento Estrangeiro Direto

Além do capital flutuante que circula entre bolsas de valores planeta afora, há uma relevante corrida global por um outro perfil de capital. Este, atrelado a projetos e empresas definidos, normalmente tem ciclo mais longo, entrando em um determinado país com o intuito de alavancar o estabelecimento ou a expansão de empreendimentos.

Resultam, além da positiva entrada do capital no país, também em transferências de conhecimentos e know-how, e no fortalecimento de conexões de negócios entre os países de origem, de destino e de terceiros mercados.

Este é o “bom capital”, que fomenta a expansão de infraestruturas logísticas (portos, aeroportos, rodovias, etc), energéticas (petróleo e gás, usinas, hidrelétricas, linhas de transmissão, etc), de comunicação, plantas industriais, entre outros. Gera ampliação de formação bruta de capital fixo, empregos diretos e indiretos, e competitividade sistêmica.

E, para que chegue ao país, 2 quesitos são necessários: Bons projetos e Confiança. Neste último, o cenário também nos é difícil. O Brasil conseguiu, desde o início das manifestações populares em meados de 2013, despencar da 3ª posição global entre os países mais Confiáveis para receber investimentos estrangeiros até o ponto de, em 2019 nem mais figurar no ranking dos 25 principais destinos, na visão dos líderes empresariais responsáveis por decisões de investimentos mundialmente.

Com isso, cai por terra o último bastião de um discurso superficial promovido por agentes políticos e de mercado do Brasil. Ilustra que, independentemente de reformas e malabarismos implantados nos últimos anos, nada substitui um bom projeto de Nação, embasado, consequente, vocacionado, inclusivo e viável.

Sem este tipo de projeto, os Empreendedores locais não passam de entusiasmados defensores de pontos de vista ocasionais, enviesados e inertes. Enquanto nação, vive-se a economia da “Gincana”, do esforço despropositado. Voos – ou mergulhos – de galinha.

Por isso, em épocas de colapso ou não, a Nação há que se responder consistentemente à pergunta-chave: Qual é o Plano??

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