*Artigo por Eudes Lopes e Humberto Ribeiro. Ação Jaguar.

Desde os tempos ancestrais, a prosperidade humana presume circulação, alcance de recursos remotos, e convergência em pontos de encontros e intercâmbios de histórias, culturas, estéticas e mercadorias. Nunca foi, assim, uma mera coincidência que os espaços consagrados das civilizações mais virtuosas também costumavam se apresentar como os lugares mais abundantes.

Somos abençoados na América Latina, onde se agrupam pontos que convergiram grandes impérios, povos e cosmologias. Aqui, culturas que às vezes nem se conheciam nos seus continentes originais, se concentram e se mesclam ao longo de séculos, nos formando como coletivo distinto e definitivamente novo. Porém, como conciliar a riqueza de uma história de tanta diversidade, transculturalidade e sincretismo, com as oportunidades perdidas pela fragmentação política que ainda persiste na própria política externa da nossa região?

Atrapalhados por dogmas ainda vigentes impostos pela era colonial, que consolidou aqui interesses dos impérios Português e Castelhano por meio de Tratados de interesse forasteiro, os povos da América Latina nos últimos 5 séculos, se esqueceram de sua capacidade de cruzar fronteiras. Enquanto isso, nosso bioma gritou da Amazônia aos Pampas, da Mata Atlântica aos Andes, que os Tratados alheios nunca poderiam ser barreiras ao nosso progresso. O jaguar, i.e. onça-pintada, permaneceu soberano, circulando brioso e sem passaporte desde a Patagônia até o Muro Trumpista.

É uma contradição entre a épica abertura humana que nos caracteriza e os encerramentos políticos práticos que nos atormentam. Por exemplo, a região se encontra hoje com quatro uniões aduaneiras separadas, pouco harmonizadas, e, portanto, pouco eficazes, em especial no que diz respeito à força de escala necessária para incentivar alinhamentos dinâmicos intrabloco em torno de um mercado único já na ordem de meio bilhão de pessoas. Em um momento em que a humanidade abraça adventos digitais que nos colocam a apenas um clique de distância de pessoas e serviços online mundo afora, o isolamento hoje torna-se ainda mais inoportuno.

O protagonismo do Mercosul aponta um caminho a ser evoluído, seguido e acelerado. A sua estrutura permitiu diversos avanços, inclusive nas políticas migratórias, como a adoção de direitos de livre circulação entre cidadãos latino-americanos (visto Mercosul). Nos cabe ir além, já em direção a tratados de intercâmbio regional, junto com CANMCCACARICOM, que viabilizem aos cidadãos latino-americanos se integrarem como comunidade única e própria.

Atravessar fronteiras latino-americanas – e, obviamente, indo além aos quatro cantos do planeta – nos reservará implicações econômicas vastas… Diante de um exemplo da dinâmica de integração desdobrada na União Europeia, observamos o sucesso do programa de intercâmbio universitário Erasmus. O seu êxito foi determinante para a consolidação de uma consciência coletiva regional e turbinou toda economia regional, com ganhos ainda mais especiais para os setores de Cultura e Turismo.

É hora de honrar a nossa própria essência intercultural. A nossa própria prosperidade!

* Eudes Lopes, PhD pela Cornell University ([email protected])

Deixe seu comentário

Por favor inclua seu comentário
Digite seu nome aqui