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Esta última quinzena serviu para que o planeta observasse a reafirmação de fôlego das potências asiáticas no xadrez global do desenvolvimento e da preponderância política, enquanto o eixo euro-panamericano prossegue em emboscadas internas de grandeza preocupantes.
Enquanto na semana de 14 de Maio o “país do centro”, a China, recebeu na capital Beijing chefes de estado de 29 nações para o forum global sobre seu plano denominado em inglês “One Belt, One Road” – OBOR (com tradução livre “Um Cinturão, Uma Estrada”), a “terra do Sol nascente”, o Japão, deu mais um passo rumo à nova era espacial com o lançamento no dia 1º de Junho do seu segundo satélite de alta precisão, o Michibiki 2, a partir da base de Kagoshima.
Com a China transformando conceitos e confundindo as interpretações planeta afora sobre seu modelo comunista, propondo com o projeto OBOR a evolução – ou o domínio? – de infraestruturas logísticas e a integração econômica mais intensa dentro da região e com globo, o Japão prossegue fortalecendo seu papel já consolidado de liderança tecnológica, desta vez garantindo sua independência e de seus aliados em relação à malha espacial dos Estados Unidos.
Ambos, talvez, aproveitem as incertezas e o vácuo de liderança global criado, no lado Europeu, por rompimentos na espinha dorsal do seu próprio mercado comum, e no lado das Américas por um vazio discurso do gigante do Norte de retomada da capacidade manufatureira do país, que desprestigia os ambientes multilaterais como a Organização Mundial do Comércio ou a ONU e rompe tratados que vinham em maturação como o Transpacífico, enquanto o gigante do Sul, Brasil, se embaraça em um emaranhado de corrupção e desgoverno, brincando com a acracia. Somam-se a esse contexto novos desalinhamentos vindos de países inesperados, como no caso do Catar, que teve essa semana abalos graves nas relações com sete dos seus vizinhos do Oriente Médio.
Japão e China, apesar de contarem com turbulências também em sua vizinhança, a exemplo da península Coreana, parecem não estar de braços cruzados.
Paixão do Presidente chinês Xi Jinping, o OBOR foi definido por ele como “Um projeto para o século”. E apresentando um desejo de investimento de 1 trilhão de dólares nos próximos 5 anos, tenta rebatizar o projeto para “Belt and Road Initiative”, visando acalmar os ânimos dos que desconfiam do desejo de uma conquista hegemônica chinesa na arena global. Com contratos já em andamento da ordem de 330 bilhões de dólares, o sonho chinês prevê, entre outros, a ferrovia de 12.000 quilômetros entre Yiwu e Londres, o corredor Sino-Mongol-Russo, o corredor marítimo Ásia-África e projetos em mais de 30 países, da Nicarágua ao Moçambique, e da Grécia à Indonésia. No forum de Maio, participaram os líderes dos seguintes países: Belarus, Cambodia, Chile, República Tcheca, Vietnam, Argentina, Uzbequistão, Turquia, Suíça, Sri Lanka, Espanha, Sérvia, Rússia, Polônia, Filipinas, Paquistão, Mianmar, Mongólia, Malásia, Indonésia, Laos, Quênia, Etiópia, Fiji, Grécia, Kazaquistão, Itália e Hungria.
Já o sistema de satélites planejado e conduzido pela Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa – JAXA, em parceria com a Mitsubishi Heavy Industries, proporcionará, a partir de Abril de 2018, aplicações de alta precisão em geolocalização, viabilizando novas soluções que utilizem drones, veículos autônomos e instrumentos de posicionamento geográfico sem a necessidade de uso da atual malha americana de satélites.
Assim, enquanto Europeus se engalfinham nas discussões de vizinhança e os gigantes americanos Brasil e EUA se embaraçam com problemas internos e ausência de visão estratégica, os adeptos de Sun Tzu ampliam sua autonomia logística em terra e no mar de forma a garantir deslocamento eficiente de suas mercadorias, e os súditos do Imperador conquistam importante posição nos céus que lhes trará fôlego para novos saltos tecnológicos e de serviços digitais.
Entretanto, com a presença dos líderes de diversos países na cerimônia em Beijing, com destaque para a Rússia e sua estratégica posição geográfica e extensão territorial, a ausência notada no evento de Maio foi de sua vizinha, e populacionalmente gigantesca, Índia. E esta ausência pode sim ter razões conjunturais fortes, como, por exemplo, a aproximação da China com o Paquistão indesejada pelos indianos. Mesmo assim, o movimento chinês exigirá de Nova Delhi mais do que uma abstenção. Há um novo alinhamento político e econômico em construção no seu quintal, e o segundo país mais populoso do planeta não poderá ignorar as transformações decorrentes.
Quanto à Europa e as Américas, fica a interrogação: Há como enfrentar o avanço Asiático com uma carência tão aguda de lideranças, coesão social e propósito? A próxima década nos responderá. Enquanto isso, e apesar das diferenças históricas e conjunturais entre Japão e China, ambos miram os mesmos ideogramas: 未来 ou seja, Futuro!
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