* Artigo por Eudes Lopes.

O retorno de Lula à Presidência do Brasil desperta fortes esperanças para equidade social, desprimarização econômica e, celebremos, um novo patamar de integração para todo o Bloco Regional Latino-Americano. Urge a instalação de uma Força-Tarefa de coordenação técnica direcionada à consolidação competitiva da região, sob a convergência do tripé social-ambiental-empreendedor. Essa Força-Tarefa discreta, operará como subsídio às ações políticas do Mercosul e de uma nova incarnação da UNASUL.

O futuro da integração latino-americana, como todos, depende da maior socialização do princípio de coesão (“integrity”). O eixo estruturante integracionista melhor se configura através de uma legitimidade unificadora originária, ex ante das construções políticas intergovernamentais, já dentro de uma milenar consciência de comunidade compartilhada.

Machucados por enviesadas arbitrariedades que mal-utilizaram o termo “força-tarefa” na recente história brasileira, os povos latinos assistiram atônitos ao insano espraiamento destrutivo do lavajatismo, inclusive com a omissão, ou até mesmo a indução, por parte de organismos regionais e internacionais que haveriam de tê-los protegido. Havemos, agora, de despoluir este termo, empregando-o em nova abordagem integrativa, inclusiva e efetiva rumo ao bem-estar macroregional.

Nesse sentido, a nova etapa de integração melhor se viabiliza, em termos estratégicos diplomáticos e políticos, em nome da concretização dos condicionantes regionais à preservação Amazônica.

CONDICIONANTES:

1) O alinhamento das quatro uniões alfandegárias latino-americanas e caribenhas;
2) A incorporação da Unasul como mecanismo de zonificação monetária de bloco.

As dinâmicas de alinhamento do MercosulCANCARICOMMCCA, (como mercado único) e da Unasul (como zona de moeda), não foram devidamente pensadas dentro de um mandato de Causa (ou Pacto) Socioambiental, cujas implicações institucionais ambiciosas fluiriam à base de uma urgência climática maior, permitindo melhor cooperação e seguridade – energética, militar, científica, etc – regional e global.

Pelo ponto de partida da preservação Ambiental (Amazônica, Andina, Pantaneira e dos Pampas), o Brasil tem, já no curtíssimo prazo, significativa fluidez e prevalência na sua política externa, permitindo maior autonomia e flexibilidade intergovernamental no avanço do diálogo direto com os estados sul-americanos na adoção dos tratados, ferramentas, e medidas necessários para a densificação do Bloco.

O engajamento empresarial é crucial nesta agenda, por meio de um comitê ativo de interlocução, agregando cada estado-membro, com o propósito direto de elencar e operar interesses comuns pela modernização e competitividade integrada do Bloco.

É, assim, primordial instalar em Brasília esta Força-Tarefa, governamental e interministerial, com enfoque regional, ainda que centrada em atuação bilateral com cada estado-membro (atual e futuro) do conjunto latino-americano.

O cunho diplomático-tecnocrático discreto permitirá maior eficiência na normalização de uma cultura política de coordenação comercial, fiscal, e monetária de bloco. O prestígio da Força-Tarefa será imprescindível no estabelecimento de uma dinâmica de confiança entre atores políticos dos estados membros para constituir uma lógica de coro, de alinhamento dinâmico.

A celeridade bilateral (baseada em assessoria técnica) permitirá maior adesão plena e integral, sem a qual o mercado único e zona de moeda não terão a densidade necessária para combater a desindustrialização, reprimarização, e extrativismo resultante da ausência de escala econômica de Bloco e ganho sistêmico de competitividade.

O prestígio da Força-Tarefa também consta como necessário para despartidarizar debates altamente polarizados no âmbito nacional dada as influências do período neoliberal. Através da recontextualização dos debates para fins de estruturação de Bloco, teremos oportunidades inéditas para reformar e superar o legado de práticas fiscais controversas, já em direção à uma visão mais técnica e solidária de combate às assimetrias, incentivada pela força de escala possibilitada pelo alinhamento de Bloco.

O êxito sul-americano depende da diplomacia brasileira, daqui em diante mediada e legitimada pela conscientização de uma ordem de coletivo socioambiental já existente, porém ameaçada.

Prestigiada e institucionalizada por meio de uma nova Força-Tarefa histórica brasileira, naturalizaremos uma dinâmica cultural, econômica, e política de integração, desbloqueando definitivamente as resistências à nossa união e ao nosso florescimento na arena internacional.

* Eudes Lopes, PhD pela Cornell University ([email protected])

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