* por Eudes Lopes. Ação Jaguar.

A exemplo de Cartagena, Guaiaquil, Lima e Caracas, a independência latino-americana sempre foi mais disputada nas cidades portuárias. A Conquista pelos europeus foi muito além da lógica objetiva de ‘resultados de guerra’, se tornando um processo dinâmico de fragmentação interna imposto sobre as regiões conquistadas para garantir perenidade de recursos e trabalho subjugado para interesses dos dominantes externos.

Os vice-reinados espanhóis e portugueses sempre tiveram que inovar no que diz respeito à necessidade de disciplinar seus próprios “colonos,” possíveis rebeldes, aqueles cuja lealdade à Coroa nunca foi garantida. Fascinados pelas rotas nativas e pelas vias mercantis já existentes, os rebeldes latinos, os indígenas e os escravos aqui chegados nunca deixaram de despertar desconfiança e rechaço aos interesses colonizadores.

Já no início do século 19, Simon Bolívar incarnou este anseio por independência, unindo países latino-americanos em nome de um coletivo maior. Desde então, estamos ainda à busca da integração de um Mercado Único, por ele vislumbrado como contraponto aos pólos gravitacionais consolidados no mercado europeu, e, depois, no mercado estadunidense.

Porém, como entender tal fracasso neste momento em que esses próprios “centros” que dominavam nossos portos, e sacavam de nós mesmos o nosso próprio ‘olhar para dentro’, se encontram numa dependência semelhante e crescente diante do gigantesco mercado interno chinês? Como devemos olhar para os nossos antigos mercados de destino, i.e. U.E. e E.U.A., se até estes carecem da escala de mercado interno necessária para se contrapor à drenagem de cadeias de produção globais que se aglutinam na Ásia?

A união de mercados em torno de um bloco econômico e político integrado – Mercado Único – nunca foi mera questão de conveniência ou capricho. O seu imperativo sempre existiu dentro de uma lógica relativa estrutural, de uma correlação de forças imposta pelas polarizações gravitacionais globais. Hoje, a América Latina se encontra em situação dramática, onde o mercado interno que se impôs como centro, ou seja, aquele que atrai cadeias de produção do mundo todo – a China -, já flerta com a perspectiva de uma classe média de consumidores e trabalhadores integrados na ordem de 1 bilhão.

Assim sendo, dada a acelerada dinâmica de centralização em um pólo colossal rumo à Ásia que hoje ocorre, não há mais tempo para a América Latina adiar sua plena integração. Convenhamos, até mesmo os antigos mercados-pólo Norte-atlânticos carecem deste bloco latino consolidado e vibrante.

* Eudes Lopes, PhD pela Cornell University ([email protected])

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