* Por Eudes Lopes. Ação Jaguar.

Quando tratamos de produzir novas instituições regionais, e ainda mais quando o enfoque é direcionado à uma construção de coletivo latino-americanista, caímos num paradoxo. Como definir o loco dessa mirada se afinal ainda entendemos América Latina antes de termos atravessado a escala mínima da integração?

Desde a perspectiva de instituições regionais e hemisféricas como o BID, a OEA e a CEPAL, produzimos e interpretamos conhecimentos regionais como se fossem parte de um caminho linear em direção à constituição de uma entidade única progressiva, ao em vez de apreciar o salto síncrono necessário para chegar a esse limiar. Com as uniões aduaneiras já existentes (como o Mercosul, por exemplo), falamos de “união de países membros” sem propriamente contextualizar o que consta como condição basilar para funcionarmos como Mercado Único.

O erro parte de uma desconsideração estrutural daquilo que é integração, ou seja, o fator que permitiria a união factual dos mercados. Se não partirmos do pressuposto que a integração só se manterá coesa quando todos os membros estão mais incentivados para estarem dentro do que fora, a América Latina continuará com mercados estruturalmente fragmentados, subjugados como satélites periféricos de outros Blocos-centros, ou pressionados para servir como paraísos fiscais para interesses forasteiros.

Tomar o exemplo do processo de integração gradual na Europa tampouco nos ajuda compreender a realidade estrutural latino-americana. Lá as economias europeias ja contavam com um lastro histórico de centralidade em suas cadeias produtivas de ponta, permitindo integrar-se paulatinamente em sintonia com a consolidação dos mercados domésticos americanos e soviéticos. A integração latino-americana, no meio tempo, foi postergada, exigindo desde então ousadia do país que teria mais peso dentro da região — o Brasil — que, por sua vez, fracassou justamente por não ter contextualizado o seu desenvolvimento dentro de uma lógica de escala mínima.

A aposta sincronizada dos países da América Latina em direção à uma escala de Mercado Único que mudaria o cálculo de incentivos para todos na região remete (mais do que nunca) à uma investida inédita brasileira. Temos a responsabilidade maior no que diz respeito ao estabelecimento de um mecanismo de alinhamento dinâmico das quatro uniões aduaneiras latino-americanas fragmentadas (aproximando a escala mínima de um bilhão de consumidores), o que permitiria condicionar os termos de comercio regionais e globais aos aumentos de valor agregado intrabloco e aos ganhos de competitividade extrabloco.

O Brasil pode – e deve – atuar como o crucial catalizador desse salto coordenado e sincronizado entre os países da América Latina. Só assim aplicaremos a energia de ativação que produzirá o epicentro de uma única região.

* Eudes Lopes, PhD pela Cornell University ([email protected])

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